O inesperado

Já esperei tantas coisas que, em um certo momento da minha vida, fui deixando de esperar. Não que eu não tivesse desejos, vontades e expectativas, mas eu os guardava em uma caixinha blindada contra frustrações, bem no fundo do meu eu, por debaixo de todo o meu amontoado de sentimentos.

Racionalmente, eu sei que deveria ir com calma. O problema é que realmente acredito que a paixão e o amor não são nada racionais. Eles simplesmente são. São os mais belos sentimentos e devem ser vividos em toda a sua intensidade e plenitude. Se apaixonar é ver no outro a beleza da vida, é enxergar aquela faísca divina que dá sentido para tudo.

Acredito que a vida é sobre se apaixonar e amar. A paixão é fugaz, aquele frio na barriga que se transforma em arrepios pelo corpo inteiro. Também é a vontade urgente e exagerada de se somar ao outro. E então, eu, que não esperava nada, me deparei com o cenário mais inesperado de todos: eu entregue, despida de todas as armaduras e confiando, mesmo com um tanto de medo.

Não sei se minha paixão vai durar dias, semanas, meses ou até mesmo o prazo máximo de dois anos. Pode ser que ela se transforme em amor, o que, sinceramente, considero altamente provável. Para comparar paixão e amor, podemos pensar no mar: a paixão é aquela onda forte que te sacode e lava sua alma. O amor é o intervalo entre uma onda e outra: calmo, imenso, completo.

Dizem que não nos apaixonamos pelo outro, mas sim pela projeção de nós mesmos no outro. Eu até concordo em partes, mas acredito que nos apaixonamos pela forma como nos sentimos ao lado do outro. A paixão é inebriante e deliciosa. O amor é tranquilo e saboroso.

Assim como mergulhar em um mar cheio de ondas dá medo, se apaixonar também dá. Medo de ser forte demais, de nos deixar desorientadas, de nos arremessar longe demais. Mas eu escolho entrar nesse mar e mergulhar nessa onda intensa. E espero ficar, observando enquanto ele se torna calmo, tranquilo, imenso e completo.